sexta-feira, 31 de outubro de 2008

CiC-Cidade Cenário
(Trabalho apresentado no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia-Edição Itabuna/2008)




"Cada obra de arte se apresenta, então, como mero fragmento,
uma minúscula peça arbitrariamente recortada de um tecido
infinitamente mais amplo".
(Brissac Peixoto)

"Arquitetura: o que transcende a construção"
(Paulo Casé)

Esta obra integra a série intitulada CiC-Cidade Cenário e pauta-se no jogo relacional entre o olhar, o corpo e a cidade, enquanto campo de afeto visual e conceitual. Em suas três partes, me interessa explorar a idéia de fragmento, instalando uma relação entre a arquitetura urbana e o corpo enquanto matéria dividida, instrumental e fraturada. Para isso são usadas diversas cópias fotográficas retiradas da janela de meu apartamento, a primeira tratando-se de um edifício abandonado ocupado pelo MSTS-Movimento Sem-Teto de Salvador, e a outra do edifício da UERJ no Rio de Janeiro. Estas fotografias são recortadas manualmente tendo cada parte a mesma dimensão. Junto a estes ‘fragmentos de imagem’, é agregado um cubo com faces compostas por fotografias. O jogo proposto é pensar na idéia do olhar que se depara e confronta na contemporaneidade, com a grande dimensão das arquiteturas que ocupam e se instalam em cada pequena porção de espaço na cidade. O olhar que só vê janelas, pilares, andaimes, andares, verticalidades de concreto e ruína, condesadas em corpos de cimento, poeira, ferro e cal. Refletir a arquitetura em sua possibilidade de permanência e no mesmo tempo de fratura e decomposição em que “ruinas e obras se confundem” (Brissac Peixoto). A presença da imagem de um estudo ideal da figura humana, inseri no trabalho esse outro corpo, o dos citadinos, buscando problematizar a relação esvaziada de ‘experiência’ (Benjamim) carnal, corporal, sensorial que estes mantem com o espaço urbano. Arquitetura e corpo se expressam e se refletem matematizados, idealizados, instrumentalizados, condicionados a rigidez, ao endurecimento, reduzidos a projeto e esvaziados de sentido. Corpo e arquitetura se mostram desumanizados e carentes de experiência. Ambos se espelham e se desafiam na urbe contemporânea.

















sábado, 18 de outubro de 2008

“Whitedoor II”
Trabalho selecionado no I Salão Arte e Cidade - Escola de Belas Artes/2008




“A função da arte é construir imagens da cidade que sejam novas, que passem a fazer parte da própria paisagem urbana”.
(Nelson Brissac Peixoto)


A obra apresentada compõe uma série em processo, tendo como enfoque um dispositivo de caráter publicitário e comum à paisagem urbana na contemporaneidade: os outdoors. Trata-se de um exercício fotográfico de captura de outdoors brancos, “whitedoors”, subvertendo a sua função primordial de anunciar, publicar, divulgar algo, resignificando-o a partir da consideração de sua forma como elemento estético e expressivo. Num momento em que o panorama da cidade convida o olhar dos citadinos a perder-se pelos milhares de cartazes, banners, neons, anúncios, panfletos ao vento, configurando a paisagem urbana como um “jornal de serviço”, a oportunidade de encontrar um quadro limpo, um lugar branco na cidade que ainda não esteja coberto pela abundância de “imagem-palavra”, é quase nula. Diante de um horizonte que não se deixa perpassar, da “paisagem que é um muro” (PEIXOTO, 1996), o olhar é um embate. O excesso de matéria visual, o cruzamento de diversos espaços e tempos, suportes e tipos de imagem, os outdoors, com seu extenso alcance visual e seu caráter público, se destaca cada vez mais no “cenário” urbano, também por seu forte apelo visual endereçado a propagação comercial e estimulo ao consumo.
Composta por 48 fotografias (formato 10x15 cm) impressas em papel adesivado, as imagens irão compor um painel de outdoors brancos aplicados manual e diretamente sobre a parede, otimizando-a enquanto suporte para instalação da obra. A composição é elaborada a partir do preenchimento de uma área pela imagem do outdoor branco, e outra pelo próprio “vazio-branco” na parede, culminando em duas áreas brancas. O gesto pretende incitar neste caso, uma reflexão em torno do branco como possibilidade, um elemento caracterizador de ausência, seja de imagem, seja de palavra.

Texto da Organização do Evento


































Intervenção em Fotografia
Publicação-Revista Muito (Jornal A Tarde)
CIDADE ART-12/10/2008 (www.atarde.com.br/muito)